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024/01/28
Mark Rutte, secretário-geral da NATO: “Quando se observa o que os países gastam em pensões, no sistema de segurança social e na saúde, basta uma fração desse gasto para garantir que o orçamento de defesa atinja um nível que sustente os nossos retornos a longo prazo”.
Paz (dicionário ilustrado da Língua Portuguesa, Fernandes, Fernando. - Círculo de Leitores, Lisboa, 1984. Pág.1356, vol. III) s. f. Situação de um país que não está em guerra; cessação das hostilidades; tranquilidade pública; serenidade; sossego; descanso; silêncio.
Paz (Dicionário, etimológico, da Língua Portuguesa, Machado, José Pedro. - 2ª edição. - Livros Horizonte, Lisboa, 1967, pág.1778, vol. III) s. Do lat. pace-, «paz (depois da guerra).
Paz (Grande dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa, Houaiss, Antônio, 1ª edição. - Círculo de Leitores, Lisboa, 2015. Pág. 2948, vol. V). s.f. Relação entre pessoas, nações etc que não estão em conflito; concórdia.
Paz (Grande dicionário da Língua Portuguesa, Machado, José Pedro. - Sociedade da Língua Portuguesa, Lisboa, 1991. Pág.603, Vol. IV) – União, concórdia, amizade.
As palavras,
Como são incertas,
As palavras.
Quem as vê perfiladas nos dicionários
Sérias,
Hirtas,
Sem sorrisos, nem choros,
Sem mágoas, nem tristezas,
Neutras, monocórdicas
Até acreditamos nelas.
«Mas»,
(Dizem que há sempre um)
A confusão começa
Quando sacadas do seu habitat natural,
Os dicionários,
Onde descansam das torcedelas
Que quem as usa lhes dá.
Para que sirvam interesses,
Os mais obtusos.
Há, porém, uma
(não é que não haja mais)
Que deveria ser sagrada,
De sentido monolítico,
Que não deveria ser moldada,
E essa é Paz.
Essa uma,
É tratada como uma vadia,
Prostituída
Nas esquinas da cidade
Onde habitam
Os Senhores deste Mundo.
Das varandas do Vaticano,
Um homem de branco vestido
Olha a multidão a seus pés
E pede ao seu “Infinito”
Paz
Lá, no outro lado junto ao Atlântico,
Num edifício de uma cidade,
Um homem impotente,
Invoca, do alto da sua fragilidade,
Paz para o Mundo.
Em vários locais deste planeta,
Da mais remota ilha
Aos continentes,
Do mais desconhecido lugarejo
À maior e mais poderosa Metrópole,
Pessoas reunidas
Em assembleias,
Congressos,
Seminários
Terminam lendo um papelote luxuoso
Onde clamam Paz.
A gente
Para, escuta e ouve
O que nesta nossa cansada Terra
Se ouve mais alto.
Não é o vagido de um bebé,
Não é o rolar de dois corpos que se amam,
Não são os beijos dos namorados,
Não é o beijo terno dos pais aos filhos,
Não é o zumbir de uma abelha,
Não é o cantar dorido do rouxinol,
Não é a aragem fresca da manhã,
Não é o bater das ondas nas rochas,
Não é o som dos vendavais,
Não é o estrondo dos trovões,
Não é o roncar dos vulcões,
O que mais alto soa,
Continuamente sem intervalo,
É o som da metralha,
A voz da morte.
A gente
Para, olha e vê
O que nesta nossa cansada Terra
Brilha mais forte.
Não é a luz dos pirilampos,
Não é a luz da lamparina,
Não é a luz da rua,
Não é a luz que ilumina a estátua da Paz,
Não é a luz que varre o chão das prisões,
Não é a luz de um farol,
Não é a luz do relâmpago em noite de tempestade,
É a luz da morte, que a metralha produz,
Que ilumina riachos de sangue,
Que regam desertos, campos e montes.
Por detrás dessa tempestade,
De sons e luzes
Que a morte espalha,
Estão as mesmas pessoas
Que em assembleias,
Congressos,
Seminários,
Apelavam, Paz.
Interrogamo-nos.
Onde essa Paz que não vem?
Ou será que veio
E não a reconhecemos como Paz?
Será que a Paz daquelas figuronas
Reunidas em assembleias,
Congressos e seminários
Que no fim clamam Paz.
É a paz
Como se diz nos dicionários
“País que não está em guerra”,
“Paz (depois da guerra)”,
“Concórdia”,
“União”.
Paz,
Um estado de compreensão,
De humanidade igual
De partilha,
De respeito,
Na saúde e na doença,
Até à morte natural.
Esta á a Paz dos pequeninos
Que nunca saíram,
Ou não quiseram sair,
Do estado pueril da inocência.
A outra Paz,
Que se faz preparando a Guerra,
Sacrificando a saúde e a segurança social,
É a Paz dos Imperialistas Capitalistas.
Paz, para eles,
É o estado em que eles ditam as regras,
Decidem como se devem organizar os Estados.
O problema é que entre os Imperialistas,
Embora o objectivo seja o mesmo,
É que ambos querem ser os Imperadores,
E dizem-se uns aos outros,
Com facas nos dentes,
O império, sou eu.
Coitados dos Povos
Que por azar
Se encontram no caminho
Dos imperialistas,
Ambiciosos de serem Senhores do Mundo.
Coitados dos que no meio desta sanha guerreira,
Que faz chover sangue e corpos,
Por montes e vales,
Planícies e desertos,
Rios, lagoas e areais,
Ousam manter a luz acesa
Enviar canções de esperança
No vento que passa.
Que é possível viver
Sem esta maldita desgraça.
Estes são os piores inimigos,
Maldita gente de ruim raça,
Inimigos da Civilização,
Serão para sempre amaldiçoados,
Não terão refúgio, nem quartel,
Todos serão crucificados.
Zé Onofre