Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Notas à Margem

Notas à Margem

30
Nov23

HISTÓRIAS PARA ENSINAR A LER E A ESCREVER - LIVRO III - AS BOTAS

zé onofre

AS BOTAS, 2005.04.08

 

De botas novas,

Sentado no muro,

Beto olhava triste

O jogo duro.

 

A bola trapeira

Rolava na calçada

E o Beto sentado

De cara enfiada.

 

Mansamente

Como quem não quer nada

Vai se metendo

No meio da jogada.

 

Um pontapé

Numa bola perdida;

Uma finta,

Por desfastio.

 

Quando dá conta

Faz parte do desafio.

Beto esqueceu as botas,

Agora que o jogo está a dar.

 

Um pontapé mais forte,

Mas menos certeiro,

Deixa a bota rota

O dedo grande a espreitar.

AS BOTAS.jpg

O pior, vai ser o pai,

Quando der pela coisa.

Já o está a ouvir,

No meio da sala,

Dizer num berro:

P’ra ti, senhor Beto,

Só botas de ferro!”

zé onofre

23
Nov23

HISTÓRIAS PARA ENSINAR A LER E A ESCREVER - LIVRO III - UMA ESTRELA CAIU

zé onofre

CABANA 

 

Era uma vez

Um príncipe.

Era uma vez

Uma pastora.

 

Há muito, muito tempo

No tempo

Em que o tempo

Não andava

Filipe,

Pelos campos e bosques

O tempo passava.

 

Há muito, muito tempo,

No tempo

Em que o tempo

Não andava

A pastora

Seu gado apascentava

CABANA.jpg

E como o tempo

Era do tempo

Em que o tempo

Não andava

A pastora sentava-se

Nos fetos

Para ali ficava.

E como o tempo

Era do tempo

Em que o tempo

Não andava

Filipe

Pelos montes passeava

E como Filipe

Era como o tempo

Que não desatava

E a pastora

Como o tempo

Não andava

Teve de vir a fada

A ver se a história acabava.

 

Agora a pastora

Era prisioneira dos fetos,

Guardas ferozes;

Filipe era o príncipe

Que a libertava

Dos seus algozes

Filipe ceifou

Um a um sem medo

Todos os fetos guerreiros

Que encontrou.

 

Encantado

Pelas mãos da fada

Filipe teceu num repente

Um castelo de fetos

Que durou para sempre.

 

E tudo isto se passou

No tempo

Em que o tempo parou.

Ainda lá deve estar

A cabana de fetos

Que Filipe engenhou.

21
Nov23

Que viva Spartakus - 43

zé onofre

                     41

 

023/11/23

 

É como um escorpião,

O capitalismo financeiro.

Todo o trabalhador

É um sapo nada matreiro.

 

É como um rio de cifrões,

A economia que de nós se alimenta.

Umas vezes é fio sereno,

Outras vezes é massa violenta,

                        

Provocada pelo escorpião insatisfeito

Que agita com ambição a corrente.

Atira-se, então, às costas do sapo.

Este humilhado leva-o em frente.

 

Quando a corrente acalma

O escorpião, seguro na margem,

Espeta, como é de sua natureza,

O ferrão a quem o levou por bem.

 

O sapo, desmemoriado e crédulo

Entorpecido por veneno e traição,

Na próxima tormenta já esquecido

Carregará de novo o escorpião.

 

Até quando sapo/trabalhador

Continuarás a ser bom menino

E a morrer à picada do escorpião

Como se fosse esse o teu destino?         

17
Nov23

Considerações sobre ... 5 - Us acordus i desacordus urtugráficus

zé onofre

 5 - Sobre … Us acordus i desacordus urtugráficus

 

(Eu não iscrevu respeitandu cualcer acordu urtugráficu)

 

Um dia destes acurdei com um pensamentu persistentemente istranhu.

Pela primeira vez zuava na miña cabesa uma sensasão urjente de iscrever sobre us acordus urtugráficus ce só têm trazidu  dezacordus ce muitas vezes descambam em palavras agresivas.

Pois nese tal acurdar desidi dezistir de dizer a mim mesmu ce um acordu é uma convensão i comu tal não entendu tantu sururu à volta de cual é a verdadeira i mais curreta iscrita.

Pois para não me ver ubrigadu a tumar partidu pelu últimu, pelu penúltimu ou pur cualcer outru anterior a estes desidi iscrever cumu me der na tella.

Xegei à conclusão ce se cualcer um pode respeitar, ou desrespeitar u ce se convensiunou ser u ce mellor se adecua a uma pusível converjênsia para uma iscrita ce seja a mais abranjente pusível para todus us falantes da mesma língua.

Desidi, então, iscrever du modu ce bem me apetesa. A iscrita é miña, eispresa o meu pensamentu i a mão ce a iscreve nu papel para depois ser pasada nu computador, ainda me pertense. Logu istou nu meu direitu de uzar a grafia ce me der nu toutiso.

Concluindu – cada um iscreve u ce entender, cumu cizer.

Se u ce escrevu segundu a miña  autunumia não for bem entendidu, u problema deixa de ser du meu foru. A cestão é ce se cada um iscreve segundu u acordu ce mais lle parese ser u mais perfeitu, também eu tenhu u direitu de uzar o modu de escrever com a urtugrafia ce desida segundu u umor du mumentu.

Para todus um bom fim de semana xeiu de alegrias, boas iscritas e mellores leituras.

Até à próxima e desculpem cualcer coiziña,

Zé Unofre 

13
Nov23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro III- Gato

zé onofre

GATO, 2005.03.11

 

Estrada abaixo

Caminhando só

Vai o Guilherme

Cantando o sol e dó.

 

De repente

Miau, miau, miau ....

Parou a cantoria

Parou os passos

Parou a respiração.

Um gato

Miava de aflição.

GATO.jpg

Sobe o muro

Rasteja no centeio.

Numa toca

Só olhos

Só pulgas

Um gato de dedo e meio.

 

Guilherme

Pega no gato.

Com todo o cuidado

Estreita-o ao peito.

O gato nem mia

De tão apertado.

     Zé Onofre

10
Nov23

Considerações sobre ... 4 - A demissão de António Costa

zé onofre

4 – Sobre … A demissão de António Costa

Sobre a demissão do sr. primeiro ministro nada tenho a considerar, porque não tenho informação sobre os motivos que o levaram a tomar uma atitude tão radical, apesar de ter visto e ouvido vários noticiários, dos vários canais televisivos. Também li algumas linhas em blogues. Nem uns, nem outros me elucidaram objectiva e claramente, por uma razão muito simples – vinham carregadas de juízes de valor.

Que os autores de blogues o façam, não me espanta. Estes não têm um estatuto que os obriguem um código deontológico a cumprir porque não são jornalistas. Não se pede a estes que noticiem, porque os blogueiros, na sua grande maioria, escrevem opiniões sobre acontecimentos. Quem as lê pode, ou não, estar de acordo. Contudo, é direito de cada autor de um blogue divulgar livremente a sua visão do sucedido.

Já um jornalista, por muito que lhes doa e custe, não podem emitir a sua opinião devido à sua obrigação com o público – noticiar e informar claramente. Não é isso que se observa no dia-a-dia dos noticiários.

Num noticiário o jornalista de serviço anuncia o que já toda a gente sabe – O primeiro-ministro demitiu-se – agradeci muito ao sr. Jornalista, mas isso já eu sabia por o ter ouvido na esquina de uma rua.

Agora o porquê?

Nada x Nada.

Depois desta não notícia, vira-se para a direita, ou para a esquerda, e pergunta aos “comentadores” de serviço – E agora o que se segue?

Que dizem os doutos comentadores.

Não fazem o que deveriam fazer - era esclarecer o que determina a Constituição da República Portuguesa.

- O sr. Presidente da República ouve os partidos parlamentares.

- O sr. Presidente de seguida convoca o Conselho de Estado e ouve os Conselheiros.

- Ouvidos os partidos, os conselheiros de Estado, o sr. Presidente da República retira-se e reflecte sobre a decisão a tomar, que são duas possíveis

. Indica um novo primeiro-ministro dentro do quadro da presente Assembleia da República.

. Dissolve o Parlamento, convoca novas eleições legislativas para eleição de novos deputados.

Parêntesis – neste ponto ficaria muito bem aos senhores jornalistas e comentadores informarem o Exmº. Público, que nas eleições Legislativas os eleitores elegem deputados e nunca um primeiro-ministro. Que os dirigentes do PS e do PSD, embora estejam a enganar conscientemente os eleitores, o façam só mostram a seriedade com que tratam os eleitores durante a Campanha. Ora os senhores jornalista, enquanto jornalistas, têm o dever de informar e sublinhar, todas as vezes que falem sobre eleições legislativas, que o que está em causa é conquistar uma maioria de Deputados e não o lugar de Primeiro-ministro. Aliás se tivessem memória lembrariam o que se passou com o Governo minoritário do PS. Enquanto o PS, segundo partido mais votado, conseguiu uma maioria de Deputados que viabilizou que formasse Governo. Já o PSD, partido mais votado, não conseguiu convencer a maioria dos deputados a que o Sr. Passos Coelho formasse Governo. Tudo isto dentro do estritamente normalizado pela nossa Constituição. – Fim de parêntesis.

Esta deveria ser, na minha opinião, a conduta dos jornalistas e comentadores.

Não gosto, há quem goste, que os senhores comentadores, sempre os mesmos, venham para as pantalhas da televisão, ou para as folhas da imprensa escrita, ou aos microfones da rádio, exporem o que pensam e porque o pensam assim.

Não gosto de adivinhos – que é isso que eles são – que tentam ver o que vai na cabeça de sua Exª. o Sr. Presidente da República. Certamente leem os “voos das aves”, “as entranhas de animais sacrificados”, “as borras do café”, as folhas que ficam na chávena do chá”, ou quem sabe o “Oráculo de Delfos” que somente eles, “os Sacerdotes do Futuro”, conseguem interpretar.

Zé Onofre

08
Nov23

Dia de hoje - 88

zé onofre

               88

 

023/11/08

 

Havia um quintal.

No quintal havia um carvalho.

No carvalho havia bugalhos.

 

Havia um quintal.

No Inverno florescia o batatal.

Todo o ano produzia couves.

 

Havia um quintal.

No Verão resplandecia de brincadeiras,

No solo remexido e poeirento.

 

Havia um quintal.

Havia oito irmãos

Para o quintal.

 

Com os oito irmãos

O quintal

Deixava de ser apenas quintal.

 

Com os irmãos

Os simples bugalhos,

Transformavam-se em maravilhas.

 

Agora o quintal é acampamento.

A tranca da porta da cozinha

Com lençóis faziam a tenda do Comandante,

 

Agora os bugalhos são ciclistas,

A fazerem a Volta a Portugal.

Com esforço trepam o Marão e a Estrela,

E outras serras menores,

Suam pelas planícies tórridas do Alentejo,

Seguem à sombra das vinhas de enforcado

Em estradas serpenteando pelo verde Minho,

Por vilas e cidades,

Por aldeias perdidas

Que nem os mapas conseguem encontrar.

 

Agora o quintal é uma colina

Onde uma cabana se ergue,

Casino onde se joga às cartas,

Sala de conversas animadas,

Quarto secreto

Onde a passarada canta de madrugada,

Enquanto as estrelas se somem uma a uma

E o Sol raia pelo carvalho.

 

Havia um quintal.

Havia um carvalho com bugalhos.

Havia oito irmãos.

Havia imaginação,

Que tornava imensas

Os dias e as noites,

E sem fim

O Verão.

  Zé Onofre

04
Nov23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro III - Nuno e a neve

zé onofre

NUNO E A NEVE, 2005-03-08   

 

“Anda lá

Não sei onde tens a cabeça!”

E o Nuno recomeçava

“Em trinta e oito

Quantas vezes há nove.

 

E a mão pesada

Lá escrevia

O que a cabeça

Perdida nos amigos

Lhe dizia.

 

Ele ali

A repetir ditados,

Contas, problemas,

Reis, rainhas,

Rios, montanhas

E as linhas.

 

E os amigos nos campos

A brincar com barcos

A fazer moinhos.

 

E a voz da professora

Ouve lá, já viste neve?

 

Distraído,

Ainda não escrevi

“Ditado”

 

Não é isso.

Tu já viste neve?

Não, senhora.

Mexe-te,

A explicação acabou,

Vai-te embora.

 

Palavras santas

Ouvidas com toda a atenção.

A correr sai porta fora.

 

De olhos espantados

Vê o céu cinzento

Cair aos bocados. 

Aquilo é que é neve?

Aqueles farrapos

Brancos, macios,

Leves e frios

É que é a neve?

 

Chama os amigos

Segue as pegadas

No tapete branco.

Lá estão eles na eira.

 

Começa a brincadeira.

Bonecos de neve

Bolas de neve

Corridas na neve.

Esquecido da lição,

Que tanto o entristecia,

Nuno desliza

Calções no chão

Pela neve fria

 

   Zé Onofre

NUNO E A NEVE.jpg

 

 

 

 

 

 

 

01
Nov23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro III - Circo

zé onofre

    CIRCO, 2005.02.25 

 

No fim da aula

Um altifalante

De voz roufenha

Gritava ao vento

A grande novidade

O grande evento.

 

“Pela primeira vez

Nesta localidade

Directamente do Brasil

E da Argentina

Chegado da América do Sul

O Circo Costa apresenta

O artista da roda

O grande Raul.

 

CIRCO.jpg

 

E as crianças ficavam

Olhando nos cartazes

De cores vivas

Os seus ídolos de rapazes.

 

Eram os malabaristas

Bolas no ar

Bolas na mão

 

Rodopiando no ar

Nem sabem quantas são.

Eram os palhaços

Narizes vermelhos,

Caras pintadas,

Desengonçados

Em tudo que fazem

São engraçados.

 

Acima de todos

O grande Raul

Montado na roda

Num arame fino

Subindo ao céu.

Lá no cimo

Como se não fosse nada

Desafia o abismo.

Na roda encantada

Faz o pino,

Gira como um pião

Dança a valsa

Como se estivesse no chão.

  Zé Onofre

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub