HISTÓRIAS PARA ENSINAR A LEL e a escrever LIVRO III - E foi assim ..
E foi assim…
Fizemos um longo caminho
Na floresta das palavras.
Não viajamos sozinhos,
Viemos com crianças bravas
Algumas chegaram
Com tão malas artes,
Que só a sorte os livrou
Dos seus disparates.
A cabeça da Inês fervilha
De alegria. O pai decidiu
Levá-la de barco à ilha.
Ulisses teve uma visão.
Uvas no alto duma videira.
Trepa, escorrega cai no chão.
Olavo, rapazinho novo
Pastoreia a galinhas,
Para lhe comer o ovo.
A Ana voadora,
Em asas de sonho.
De noite saía pela janela.
Eva, cavaleira sem igual,
Montada numa vassoura
Partiu uma jarra de cristal.
A Aida só namoraria o Zé
Se este pegasse o boi da aldeia.
Ele fugiu, mas ela não arredou pé-
O Aurélio, que alegria tem,
Brincando às escondidas
Na sala com a mãe.
Vimos a desfolhada anual,
Onde rapazes e raparigas
Namoriscavam na eira do Pombal.
Eurico, de cheiro apurado,
A comer o bolo no forno
Pela mãe foi apanhado.
Zé com os olhos brilhantes
Procurava a estrelas na Poça Grande,
Pensava que eram diamantes.
Uma menina foi à gruta de oiro,
Sonhando no colo da mãe,
Onde o sol repousa. Bonito e loiro.
A Marianita viu no outeiro
Um enorme fantasma.
Era apenas um castanheiro.
As crianças guardavam segredo,
Que lá longe havia uma curva,
Onde lobos lhes metiam medo.
Pedro, pelos patos iludido,
Mergulhou no lago
Todo vestido.
Seis amigos, apenas seis,
Valentes cavaleiros,
Ao serviço dos seus reis.
Ouvimos e quisemos acreditar
Que Lara pastora e Luís cavaleiro,
Mesmo mortos dançam ao luar.
Acompanhamos o Mário,
O corredor. Em motas de pau
É sempre o vencedor.
Diogo foi jogar aos dados
Com um cidadão romano
E ganhou-lhe um soldado.
Acompanhamos também
O Caio, cansado e dorido,
A deitar-se no colo da mãe.
Vítor, para dar a volta ao Mundo
Em veleiros, barcos de papel,
Precisava apenas de um só segundo.
Fomos ver com admiração
O Raul, que dançava com a roda
No arame como se fosse no chão.
Vimos o Nuno brincar na neve,
Na tarde mais feliz que ele,
Desde que se lembra, teve.
Guilherme vem todo satisfeito
Do meio do centeio onde achou
Um gato que traz ao peito.
Simão, queria uns socos,
Descalçava os sapatos
Para ouvir só o troc-troc.
Filipe, tecelão do vento,
Do tempo, de simples fetos
Fazia castelos num momento.
Beto, não queria, é verdade,
Estragar na bola as botas novas,
Mas o desejo venceu a sua vontade.
A tia Joana muito nervosa
Vigia o sobrinho e o filho,
Não façam brincadeira perigosa.
O Zito, compincha das brincadeiras,
Espalhou-se na erva verde
Numa zorra voadeira.
O Xavier, sempre trapalhão,
Foi ajudar à missa com sono
Espalhou-se com o cálix no chão.
Vimos o Hugo caído nas heras,
Dentro de água, a gritar afogo.
Sem a amiga afogava de veras.
Quico, à beira rio, gritava bem
Alto, à gente e ao mundo,
Ser dono da seara e mais ninguém.
… que chegamos ao fim
Zé Onofre