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Notas à Margem

Notas à Margem

30
Dez23

HISTÓRIAS PARA ENSINAR A LEL e a escrever LIVRO III - E foi assim ..

zé onofre

E foi assim…

 

Fizemos um longo caminho

Na floresta das palavras.

Não viajamos sozinhos,

Viemos com crianças bravas

 

Algumas chegaram

Com tão malas artes,

Que só a sorte os livrou

Dos seus disparates.

 

A cabeça da Inês fervilha

De alegria. O pai decidiu

Levá-la de barco à ilha.

 

Ulisses teve uma visão.

Uvas no alto duma videira.

Trepa, escorrega cai no chão.

 

Olavo, rapazinho novo

Pastoreia a galinhas,

Para lhe comer o ovo.

 

A Ana voadora,

Em asas de sonho.

De noite saía pela janela.

 

Eva, cavaleira sem igual,

Montada numa vassoura

Partiu uma jarra de cristal.

 

A Aida só namoraria o Zé

Se este pegasse o boi da aldeia.

Ele fugiu, mas ela não arredou pé-

 

O Aurélio, que alegria tem,

Brincando às escondidas

Na sala com a mãe.

 

Vimos a desfolhada anual,

Onde rapazes e raparigas

Namoriscavam na eira do Pombal.

 

Eurico, de cheiro apurado,

A comer o bolo no forno

Pela mãe foi apanhado.

 

Zé com os olhos brilhantes

Procurava a estrelas na Poça Grande,

Pensava que eram diamantes.

 

Uma menina foi à gruta de oiro,

Sonhando no colo da mãe,

Onde o sol repousa. Bonito e loiro.

 

A Marianita viu no outeiro

Um enorme fantasma.

Era apenas um castanheiro.

 

As crianças guardavam segredo,

Que lá longe havia uma curva,

Onde lobos lhes metiam medo.

 

Pedro, pelos patos iludido,

Mergulhou no lago

Todo vestido.

 

Seis amigos, apenas seis,

Valentes cavaleiros,

Ao serviço dos seus reis.

 

Ouvimos e quisemos acreditar

Que Lara pastora e Luís cavaleiro,

Mesmo mortos dançam ao luar.

 

Acompanhamos o Mário,

O corredor. Em motas de pau

É sempre o vencedor.

 

Diogo foi jogar aos dados

Com um cidadão romano

E ganhou-lhe um soldado.

 

Acompanhamos também

O Caio, cansado e dorido,

A deitar-se no colo da mãe.

 

Vítor, para dar a volta ao Mundo

Em veleiros, barcos de papel,

Precisava apenas de um só segundo.

 

Fomos ver com admiração

                            O Raul, que dançava com a roda

No arame como se fosse no chão.

 

Vimos o Nuno brincar na neve,

Na tarde mais feliz que ele,

Desde que se lembra, teve.

 

Guilherme vem todo satisfeito

Do meio do centeio onde achou

Um gato que traz ao peito.

 

Simão, queria uns socos,

Descalçava os sapatos

Para ouvir só o troc-troc.

 

Filipe, tecelão do vento,

Do tempo, de simples fetos

Fazia castelos num momento.

 

Beto, não queria, é verdade, 

Estragar na bola as botas novas,

Mas o desejo venceu a sua vontade.

 

A tia Joana muito nervosa

Vigia o sobrinho e o filho,

Não façam brincadeira perigosa.

 

O Zito, compincha das brincadeiras,

Espalhou-se na erva verde

Numa zorra voadeira.

 

O Xavier, sempre trapalhão,

Foi ajudar à missa com sono

Espalhou-se com o cálix no chão.

 

Vimos o Hugo caído nas heras,

Dentro de água, a gritar afogo.

Sem a amiga afogava de veras.

 

Quico, à beira rio, gritava bem 

Alto, à gente e ao mundo,

Ser dono da seara e mais ninguém.

                                               … que chegamos ao fim

Zé Onofre

28
Dez23

Comentários - 327

zé onofre

                   327  

 

023/11/08

 

Sobre, Nunca estamos satisfeitos, Manu Pereira em https://existeumolhar.blogs.sapo.pt/ ,em /11/08

 

Nunca diga que a chuva

Não permite vadiar.

Certamente nunca experimentou,

Num dia, ou noite,

De chuva e vento,

Com um capote dos antigos

Ir sem destino, apenas andar.

O capote

Bem aconchegado,

Apenas com os olhos de fora,

E o cabelo certamente,

Deixar correr a água

Pelo corpo

E voltar quando se está cansado.

Nunca experimentou

Chegar a casa como um pinto,

Despir a roupa encharcada,

Tomar um banho quente,

Vestir o pijama,

Deitar-se a ler um livro,

Ou ficar ali estendido

Entre os cobertores,

Agora a ouvir o dueto

Da chuva e do vento

Cantando na vidraça

Ou por nas telhas

Assobiando na esquina da casa.

  Zé Onofre

22
Dez23

Considerações sobre...7

zé onofre

7 – Sobre o uso de palavras e expressões em Inglês, quando desnecessárias

 

Tenho verificado que o Inglês tem vindo a ocupar o lugar do Português em situações que seriam perfeitamente escusadas (na minha opinião).

Hoje comentei alguns textos de blogues que usavam expressões «inglesas». Algumas ou sei o que querem dizer, outras eram-me totalmente desconhecidas. Se desconhecia o significado das expressões pedia o favor de as traduzirem. A seguir comentava-os com o mesmo texto do que as conhecidas.

<<– Por quê «expressão em inglês», e não «tradução»?

Espero morrer antes que assassinem a minha pátria (“a minha Pátria é a Língua”, Fernando Pessoa) – a Língua Portuguesa.

Da maneira como A atropelamos e desbaratamos vai ser sem surpresa que um dia leiamos um decreto no Diário da República – “Dado o uso que damos ao Inglês, e como já poucos usam a nossa Língua, a partir de hoje será o Idioma oficial de Portugal.

Serei aborrecido, mas teclarei isto “até que os dedos me doam”.>>

Um autor sentiu-se, certamente, ofendido e as suas últimas palavras em resposta ao comentário foram

– Mudanças derivadas de contacto com outras línguas são sinais de crescimento e sobrevivência de uma língua. Sei bem isso, pois estudei estes assuntos. Bom ano.

– Quando tentei esclarecer o meu ponto de vista encontrei o seguinte

– Os comentários para este post foram fechados.

A minha resposta iria ser a seguinte. 

«Mudanças derivadas de contacto com outras línguas são sinais de crescimento e sobrevivência de uma língua.

Será isto verdade?

Que é que aconteceu às Línguas Itálicas …

PEN ITÁLICA.png

Línguas osco-úmbricas

Línguas latino-faliscas

…Quando o Latim se tornou Língua dominante? 

 

Que é que aconteceu às Línguas Ibéricas … 

PEN IBÉRICA.jpg

língua ibérica:

Outras só se conhecem através de topónimosantropónimos ou teónimos citados por fontes gregas e romanas:

…em contacto com o Latim, língua dominante?

(As cópias foram extraídas da Wikipédia)

 

Alguém me dirá que o Inglês não é a Língua Dominante?

Alguém me saberá explicar porque é que tantos Cartazes de Espetáculos usam o Inglês?

Alguém me poderá explicar porque é que Cançonetistas portugueses escrevem as suas canções em Inglês?

Alguém me saberá explicar porque é que no 1º ciclo o Inglês passou a ser disciplina obrigatória? Porque não o Castelhano? Porque não o Alemão? Porque não o Francês? Porque não o Grego? Porque não um dos dialetos da Ásia Oriental?

Cito de cor uma frase que li sobre o Árabe por um clérigo Moçárabe?

Mais ou menos isto – Não é que os nossos poetas não saibam a nossa língua, mas acham que é mais ilustre falar e escrever em Árabe?

Estaremos ou não a atentar contra a nossa Língua?

Outra coisa que me leva ao rubro é ver tantos lutarem contra o “Novo acordo Ortográfico”, porque estamos a ser colonizados pelos Brasileiros. Nunca ouvi nem li que alguns desses levantasse a voz, ou a pena, contra o uso desnecessário de tantas expressões e palavras em Inglês.

Vou concluir dizendo – Antes perder o Português falado e escrito em Portugal para o Português do outro lado do Atlântico do que para o Inglês, ou para outra qualquer Língua. 

Zé Onofre

21
Dez23

Histórias para aprender a ler e a escrever - Livro III - Dono do Mundo

zé onofre

DONO DO MUNDO 

 

Quico de pé,

Do alto de um penedo,

Olhando o rio,

Gesticulava sem medo,

Declarando naquele segundo,

Quebrando um segredo

Ser dono do Mundo.

DONO DO MUNDO.jpg

Do alto da sua pequenez,

Olha os campos além.

Desafia

Pretendentes desconhecidos,

Com quantas forças tem.

Assegura bem alto

Ser dono único da seara,

Ser esta sua,

Só sua,

E de mais ninguém.

Foi assim,

Nestes preparos,

Que o foram encontrar,

De chapéu na mão.

Ao ouvir e ver

Tamanha ousadia,

Do seu tímido irmão,

Os mais velhos riem

E têm a certeza

Que ali andou garrafão.

  Zé Onofre

20
Dez23

Dias de hoje - 90

zé onofre

              90

 

023/12/20

 

No tempo em que o tempo parava

 

Naquele tempo,

Antes de este tempo

Que em tudo que toca macula

Que das mais pequenas coisas

Faz objeto de consumo,

O Natal

Não era uma data no calendário,

Uma palavra no dicionário,

Era o tempo

Do mistério e da alegria,

Do sonho e da magia.

 

Do Natal desse tempo

Não há um momento especial,

Todos os momentos eram

Por inteiro o Natal.

 

Começava no fim das aulas em dezembro,

Com a criançada desafinada,

Pela estrada até casa

A cantar entusiasmada

 

– «Aulas acabadas

Férias começadas

Vamos para casa

Comer rabanadas».

 

Continuava-se com o presépio,

Na Igreja e em casa,

Na cozinha à volta da mãe

A provar as lambarices.

 

A noite de vinte e quatro

Com o bacalhau e a doçaria

(Com filhós e bolos de abóbora

rabanadas e aletria).

No Largo da Igreja

Com brincadeiras mil

Até à missa do Galo,

Com o “nosso” presépio a presidir.

 

Ao outro dia a festa continuava.

Ensaiar as janeiras. Canto tradicional,

Já não à avó, mas que continuava

Ao tio mais velho da Casa do Espinhal.

  

Era uma semana cheia de alegria,

O pai e os filhos, vê-los era um regalo.

E como sempre o pai contava

“uma vez deram um arroz de galo”,

E logo de seguida, com ar maroto,

“Não, galo de arroz”, emendava.

  

 Acabava o Natal,

No primeiro dia de janeiro,

Alta madrugada

Já o galo cantava no poleiro.

 

Votaria daí a uma eternidade,

(Caído logo no esquecimento)

No último dia de aulas

Do próximo dezembro.

  Zé Onofre

19
Dez23

Histórias para aprender a ler e a escrever- LIVRO III - Afoga

zé onofre

AFOGA - 2005.04.22

 

Naquela tarde de sol,

Depois de chuvadas intensas,

Pelos campos alagados

E poças transbordantes

Hugo de macaca na mão

Corre a macaca

Como mandava a tradição.

 

Perseguido e encurralado

Num caminho estreito

Só tem duas soluções:

Recua e é apanhado,

Ou avança em frente

Pelo paredão da poça

Grande passo arriscado.

 

Avança destemido!

Passara ali tantas vezes

Conhecia o sítio das pedras

Tão bem como os seus dedos

Não seria agora

Que se poria com medos.

 

Avança um pé,

O outro, lança

Sente-se em falso

Uma atrapalhação.

Hugo, dependurado numa hera,

Grita de aflição:

Eu afogo. Eu afogo!

AFOGA.jpg

Aflige-se a irmã,

Uns amigos riem-se

Outro, irritante, insiste,

Como uma maldição

Afoga! Afoga!

Só uma amiga, de sangue frio

Tira o Hugo da hera

O livra da aflição.

17
Dez23

Considerações sobre... 6

zé onofre

6 – Os comentários dos comentadores “oficiais do reino”, ou a “Voz do dono”

 

Ouvi o senhor comendador, digo o sr. Comentador, duas vezes em dois dias seguidos, sobre o mesmo assunto.

Dizia o sr. Nos seus laudatórios, digo comentários independentes, sobre a Palestina, digo assim para abreviar (dizer conflito Israel-Palestino, ou como querem os donos das notícias – Israel-Hamas - pronto acabei por me alongar).

Comentava sobre as ações retaliatórias sobre Gaza (vamos lá ser politicamente obedientes, sobre o Hamas) e o veto do seu, dele comentador, tutor à proposta do Secretário Geral da ONU para um cessar imediato na Palestina.

Dizia o sr. Comentador, e vou nomeá-lo porque já vejo muitos a enfiar a carapuça, Nuno Rogeiro que o veto terá sido um erro estratégico dos EUA (ou terão os EUA uma razão que só eles conhecem e não informaram o sr. Rogeiro da mesma).

Lamentava, então, o sr. Nuno que assim os EUA estão a perder os seus créditos não só no Sul Global, mas também de alguns dos seus aliados ocidentais.

É muito grave, continuava o sr. Nuno Rogeiro, porque assim os EUA ficam isolados e levam consigo Israel. Ora este isolamento apenas beneficiará a Rússia e a China, o que é deplorável.

Dizer que é uma ignomínia o cortejo de estropiados, de mortos que ocorrem na martirizada Palestina desde o final da 2ª Guerra até à barbárie de hoje em Gaza, segundo depreendi das palavras do sr. Comentador, são danos colaterais, às decisões dos EUA e seus aliados (por acaso nesta questão do Veto apenas teve um meio aliado, a Inglaterra).

É assim que os senhores comentadores oficiais de serviço. nas rádios e televisões, mostram claramente a sua dependência, queria dizer independência, esclarecedora.

16
Dez23

Dia de hoje - 89

zé onofre

                   89

 

023/12/16

 

Desde os finais de junho

Que a Maria

Começou a andar estranha.

Às vezes,

Encontrava-se a falar em voz alta

– Ainda é cedo,

Sim,

Afinal é cedo.

 

 

Passou julho. 

Já toda ela

Entrava em parafuso.

Havia noites,

Que acordava com os seus gritos,

Pesadelos que a atormentavam

– Haveria, claro que haveria.

Que raio de pensamento o teu.

Pensar que este ano não haverá.

Acordava transpirada,

Consigo cogitando,

O ano passado,

Por esta altura,

Já havia sinais.

  

Agosto findara,

Setembro passara,

Outubro acabara.

Dele nem uma luzinha,

Nem uma palavra,

Nem uma nota,

A anunciar que viria.

Cismava, então,

Já com poucas dúvidas.

– Este ano não haverá.

Já novembro e nada!

 

Entrou dezembro.

Os seus ossos chocalhavam

Como as louças

No louceiro

Em dia de terramoto.

A alegria fugia-lhe dos olhos.

A tristeza prendia-a aos cantos.

Toda ela era desencanto.

 

Nem na televisão, nem na net,

Nem nas ruas, nem nas montras,

Nem em casa rica ou pobre.

As palavras

Que em surdina pronunciava,

Choravam.

 

Dezembro avançava cinzento.

Freneticamente saltava

De Canal em canal,

De jornais em revistas,

De praças a avenidas,

De largos a ruas,

De becos a ruelas sombrias,

Nada.

Era certo, acabava-se-lhe

A fantasia.

Este ano o seu amigo não viria.

 

Ficou a melancolia em pessoa,

Com uma psicose

Que a fazia falar  

A mesma ladainha,

Como aquelas cassetes antigas

Que voltavam sempre ao início.

- Alguém o matou pelo caminho,

Ou algum monstro sem alma

O raptou para ficar com ele sozinho.

Este ano não viria.

E então nunca mais virá.

 

Fechou-se o mais que pode.

Não queria pai nem mãe,

Nem irmão, nem irmã,

Nem amiga, nem amigo.

Fechou-se para o Mundo.

 

Estava amuada no seu quarto,

Deitada na cama

Em posição fetal.

Entra pelas portas e janelas

Pelo telhado e paredes,

Luzes e canções.

Num impulso vai à janela,

Fica louca com o que vê.

Família e vizinhos,

Mesmo os mais desavindos,

Cantavam afinados,

Milagrosamente afinados,

Como nunca até ali tinha visto.

 

Ele sempre viera.

 

Chorou, riu, quase voou,

A cara lavada em lágrimas

Do alto da sua janela gritou,

(Como se fosse o dia Original

Em que o anjo o anunciou)

– Feliz Natal.

Zé Onofre

13
Dez23

HISTÓRIAS PARA ENSINAR A LER E A ESCREVER - LIVRO III -Xavier

zé onofre

XAVIER - 2005.04.27

 

Ficar ensonado

Estendido na cama,

Pelo trinar dos melros

Ser embalado!

 

Xavier

 

Xavier! Xavier!

E Xavier nem se mexia

Prolongava o sono

Para além da voz doce

Que, mais do que o chamar,

Mais o adormecia.

 

Era muito dorminhoco!

Era um prazer

Ficar na cama sonolento

Pela manhã.

No Inverno,

A ouvir a chuva e o vento

Baterem na telha vã.

 

Na Primavera,

Até gostava.

Agora no Inverno,

Num Domingo,

Às seis da manhã,

Para quê tão cedo

Ser chamado

Se a missa era só às onze?!

 

Lembra-se de repente

Que há missa da manhã.

Lava-se a dormir,

Veste-se sonolento,

Vai, cheio de preguiça,

Para a missa das sete

 

Foi um espanto!

Deixou cair o livro,

Espalhou-se com o cálice,

Tocou fora de horas.

Mas fazer o quê,

O sono era tanto!

Zé Onofre

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