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Notas à Margem

Notas à Margem

29
Abr24

Das Eras parte V - 35

zé onofre

              35

 

Abril 24 – 6

 

024/4/29

 

A flor que levamos na nossa mão

É cor do sangue que do peito cai.

Cor da bandeia da revolução

Que pela Terra no vento se vai.

  

Cravos vermelhos que tendes a cor,

Que das nossas veias a conservais,

Não sois uma qualquer nascida flor

Sois sangue derramado em cristais.

 

Povo que na mão alto os ergueis,

Mostrai-os com bravura e calor

Para que com alegria lembreis

 

Do mês d’abril o seu dia maior.

E assim as sementes semeeis

Dum futuro que queremos melhor.

   Zé Onofre

23
Abr24

Das eras parte V - 34

zé onofre

               34

Abril 024 - 5

 

024/04/23

 

Ainda é possível sonhar,

Ainda é possível crer.

Ainda é possível embarcar

Numa nova luta para vencer.

 

É Abril, outra vez revivido

Repetir, na monótona rua,

Palavras, gestos sem sentido

Ou mostrar a verdade crua?

Desfilemos, com raiva, a clamar,

Ainda é possível sonhar.

 

Abril. Um Abril a fazer de novo,

Ou uma romagem de saudade

À campa onde jaz desiludido o Povo,

Com quem lhe prometeu a igualdade?

Desfilemos, com raiva, a dizer,

Ainda é possível vencer?

 

Abril. O que irá nas ruas desfilar,

E que nas rádios e tevês vem passando,  

Será mesmo o Abril vivo a marchar,

Ou coro de carpideiras chorando-o?

Desfilemos, com raiva, a clamar,

Ainda é possível embarcar.

 

Abril, nas ruas de novo sentido,

Ou saudade dum sonho machucado

De tão maltratado já envelhecido,

Que por hábito marcha resignado?

Marchemos decididos sem esmorecer

Numa nova luta para vencer.

   Zé Onofre

15
Abr24

Das eras V - 33

zé onofre

                   33

Abril 024 - 4

 

024/04/15

 

Se, sair à rua a manifestar,

No próximo 25 de Abril,

Não será para de novo entoar

A esse de setenta e quatro loas mil.

 

Para mim desse Abril sobra tão pouco

Que não basta dizer "25 de Abril sempre".

É urgente e necessário gritar até ficar rouco,

Para Abril viver, é preciso avançar em frente.

   Zé Onofre

05
Abr24

Das Eras Parte VI - 31

zé onofre

31

 

               Abril 024 – 2

 

024/04/04

 

Era uma vez …

Há muito,

Muito tempo

Num país perto de nós.

 

Nesse país,

Perdido lá atrás no tempo,

Havia um jardim secreto

Onde floresciam as flores mais belas

Que primavera alguma vez já vira.

 

Nesse país,

Perdido lá atrás no tempo,

O jardim secreto

Amanheceu

No alto de uma madrugada.

As pessoas, há muito dele ansioso,

Saíram à rua saudando-o

Com cânticos e palavras de alegria,

Onde cada flor serena falava

Igualdade, Liberdade.

 

Ao longo do tempo,

Desde esse há muito tempo

Em que o Jardim Secreto

Amanheceu

No alto de uma madrugada,

Os que queriam aquele jardim secreto,

Secaram uma a uma as suas flores.

 

Dessa manhã,

Que irrompeu no alto da madrugada,

Resta maioritariamente

Uma memória festiva.

 

A sua essência

Tem vindo a recolher-se

A um novo jardim

Que um novo dia

O fará florir

No alto de uma outra madrugada.

  Zé Onofre

01
Abr24

Das Eras Parte VI - 30

zé onofre

 

30  Abril 024

 

024/04/01

 

Há já muito

Que não subia esta encosta.

De penedo em raiz,

De raiz em esforço,

Me levava ao cume deste Monte.

 

Hoje fiz o velho caminho

Com mais esforço.

O tempo roeu os penedos,

Envelheceu as raízes,

Mas consegui

E aqui estou no cume do monte.

 

Sento-me,

Respiro fundo,

Fecho os sentidos por um momento,

Estou só

Encerrado em mim.

 

Após uma eternidade

Abro-me ao vento,

Ao céu,

Ao verde do monte,

Ao longínquo horizonte.

 

Olho em redor.

Apenas um cinzento pesado,

Sombrio quase negro.

Procuro no véu do horizonte

Um rasgão

Por onde veja um pouco

De uma manhã clara.

 

Lentamente rodo.

Procuro no negro longe

O azul que não aparece

E que tanto desejo.

Desistente, vou deitar os olhos ao chão,

Quando no mais afastado monte

Uma pequena brecha se rasga

E um tímido raio de sol,

Mostra o clarear

De uma nova madrugada.

 

Deito os ouvidos ao vento

Que já não sopra

Segredos

Lá dos confins de onde vem.

Vem carregado

De lâminas afiadas

Que cortam e castigam os ouvidos

Quem ousa,

Depois de tanto esquecimento,

Colher palavras semeadas

Por bocas desesperadas.

 

Apenas um silvo

Se faz ouvir.

Um grito único

De mil vozes tão cansadas

De tanto pedir socorro

No vento que corre pela Terra.

Mil vozes tão desesperadas

De tanto esperar o calor de uma canção,

A carícia de uma palavra de esperança,

Um canto que anuncie um novo amanhecer.

 

Um uivo de desespero,

Em seu último alento,

Lançado ao vento

Que os meus ouvidos fere,

Ou uma voz urgente,

Que nos grita,

Ainda estamos vivos,

Vamos em frente,

Que ninguém ouse desistir,

Que ninguém desespere

Uma nova madrugada está para florir.

  Zé Onofre

 

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