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Notas à Margem

Notas à Margem

16
Jun25

Dias de hoje 2025, 12

zé onofre

                12

 

025/06/15

 

Não me imagino

Cidadão com outra nacionalidade

Que não a portuguesa.

 

Sei que ser português

De especial nada tem

Do que qualquer nacional de um outro país.

 

Foi o acaso,

De ter nascido neste retângulo,

Que me fez português.

 

Do casamento de ter tido

Por berço as margens do Tâmega,

Por padrinho o Marão,

Por madrinha as colinas de Santa Cruz,

Com a cultura que recebi,

É a matriz do meu ser português.

 

Quis o acaso

Que nascesse na margem esquerda do Minho.

Se tivesse nascido

Quarenta ou cinquenta léguas,

Mais a norte, ou mais a nascente,

Seria cidadão espanhol,

Com o mesmo gosto de que sou português.

 

Seria diferente culturalmente,

Não na base greco-romana,

Judaico-cristã,

Já sínteses de outros substratos,

Apenas em pequenas coisas que a história diferenciou.

 

  1. Afonso Henriques,

Visto do lado cá,

É o herói que cortou os laços de vassalagem,

Do Condado portucalense,

Ao reino de Leão e Castela.

D., João I, o Mestre de Avis,

Visto do nosso lado de Aljubarrota,

Foi o herói que criou uma dinastia para Portugal.

Como serão vistos do lado de lá da fronteira?

 

“Camões, Grande Camões”,

Dizia o grande Bocage,

Cantou os feitos épicos do povo a que pertencia.

Será que o génio de Camões

Seria menor

Se tivesse nascido a norte dos Pirenéus?

 

Tenho gosto em ser português.

Porém, mais ufano me sentiria

Se tivéssemos sido um povo

Que apenas se orgulhasse das viagens

“Por mares nunca dantes navegados”

E não tivesse associado a elas

A expansão da fé e do império,

Imposição de uma crença e de uma cultura,

Conquista de territórios de outros povos,

Exploração das suas riquezas,

Minerais e humanas.

 

O génio épico de Camões

Teria sido maior

Se os feitos dos Lusíadas cantados

Não levassem numa mão a cruz e na outra a espada.

Teria sido muito melhor

E mais nos ufanaria se cantasse

A coragem de enfrentar o desconhecido,

Que levasse como bagagem o que produzia

Para trocar com o que não tinha;

Se fossem humildes dar-se a conhecer,

Com a sua religião e a sua cultura,

Abertos a aceitar a religião e acultura dos outros.

 

Que fizeram de diferente os nossos avoengos

Que já não tivessem feito,

Chineses e Hindus,

Japoneses e Mongóis,

Assírios e Medos e Persas,

Egípcios e Sumérios,

Judeus e Celtas

Gregos e Romanos,

Hunos e Normandos,

Germanos e Árabes,

Mongóis e Turcos,

Incas e Astecas?

 

Quem sabe que povo seríamos,

Os descendentes das gentes que viviam

Neste grande planalto,

Fero e rico de minerais,

Se não tivessem sido violentados por Celtas,

Por Gregos e Fenícios,

Por Cartagineses e Romanos,

Por germânicos e por Árabes?

 

Que Povo seria esse que viveria nestas areias atlânticas,

Em que Língua, cantariam os seus poetas,

Os seus feitos épicos?

  Zé Onofre

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