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025/06/15
Não me imagino
Cidadão com outra nacionalidade
Que não a portuguesa.
Sei que ser português
De especial nada tem
Do que qualquer nacional de um outro país.
Foi o acaso,
De ter nascido neste retângulo,
Que me fez português.
Do casamento de ter tido
Por berço as margens do Tâmega,
Por padrinho o Marão,
Por madrinha as colinas de Santa Cruz,
Com a cultura que recebi,
É a matriz do meu ser português.
Quis o acaso
Que nascesse na margem esquerda do Minho.
Se tivesse nascido
Quarenta ou cinquenta léguas,
Mais a norte, ou mais a nascente,
Seria cidadão espanhol,
Com o mesmo gosto de que sou português.
Seria diferente culturalmente,
Não na base greco-romana,
Judaico-cristã,
Já sínteses de outros substratos,
Apenas em pequenas coisas que a história diferenciou.
- Afonso Henriques,
Visto do lado cá,
É o herói que cortou os laços de vassalagem,
Do Condado portucalense,
Ao reino de Leão e Castela.
D., João I, o Mestre de Avis,
Visto do nosso lado de Aljubarrota,
Foi o herói que criou uma dinastia para Portugal.
Como serão vistos do lado de lá da fronteira?
“Camões, Grande Camões”,
Dizia o grande Bocage,
Cantou os feitos épicos do povo a que pertencia.
Será que o génio de Camões
Seria menor
Se tivesse nascido a norte dos Pirenéus?
Tenho gosto em ser português.
Porém, mais ufano me sentiria
Se tivéssemos sido um povo
Que apenas se orgulhasse das viagens
“Por mares nunca dantes navegados”
E não tivesse associado a elas
A expansão da fé e do império,
Imposição de uma crença e de uma cultura,
Conquista de territórios de outros povos,
Exploração das suas riquezas,
Minerais e humanas.
O génio épico de Camões
Teria sido maior
Se os feitos dos Lusíadas cantados
Não levassem numa mão a cruz e na outra a espada.
Teria sido muito melhor
E mais nos ufanaria se cantasse
A coragem de enfrentar o desconhecido,
Que levasse como bagagem o que produzia
Para trocar com o que não tinha;
Se fossem humildes dar-se a conhecer,
Com a sua religião e a sua cultura,
Abertos a aceitar a religião e acultura dos outros.
Que fizeram de diferente os nossos avoengos
Que já não tivessem feito,
Chineses e Hindus,
Japoneses e Mongóis,
Assírios e Medos e Persas,
Egípcios e Sumérios,
Judeus e Celtas
Gregos e Romanos,
Hunos e Normandos,
Germanos e Árabes,
Mongóis e Turcos,
Incas e Astecas?
Quem sabe que povo seríamos,
Os descendentes das gentes que viviam
Neste grande planalto,
Fero e rico de minerais,
Se não tivessem sido violentados por Celtas,
Por Gregos e Fenícios,
Por Cartagineses e Romanos,
Por germânicos e por Árabes?
Que Povo seria esse que viveria nestas areias atlânticas,
Em que Língua, cantariam os seus poetas,
Os seus feitos épicos?
Zé Onofre