Dia de hoje - 88
88
023/11/08
Havia um quintal.
No quintal havia um carvalho.
No carvalho havia bugalhos.
Havia um quintal.
No Inverno florescia o batatal.
Todo o ano produzia couves.
Havia um quintal.
No Verão resplandecia de brincadeiras,
No solo remexido e poeirento.
Havia um quintal.
Havia oito irmãos
Para o quintal.
Com os oito irmãos
O quintal
Deixava de ser apenas quintal.
Com os irmãos
Os simples bugalhos,
Transformavam-se em maravilhas.
Agora o quintal é acampamento.
A tranca da porta da cozinha
Com lençóis faziam a tenda do Comandante,
Agora os bugalhos são ciclistas,
A fazerem a Volta a Portugal.
Com esforço trepam o Marão e a Estrela,
E outras serras menores,
Suam pelas planícies tórridas do Alentejo,
Seguem à sombra das vinhas de enforcado
Em estradas serpenteando pelo verde Minho,
Por vilas e cidades,
Por aldeias perdidas
Que nem os mapas conseguem encontrar.
Agora o quintal é uma colina
Onde uma cabana se ergue,
Casino onde se joga às cartas,
Sala de conversas animadas,
Quarto secreto
Onde a passarada canta de madrugada,
Enquanto as estrelas se somem uma a uma
E o Sol raia pelo carvalho.
Havia um quintal.
Havia um carvalho com bugalhos.
Havia oito irmãos.
Havia imaginação,
Que tornava imensas
Os dias e as noites,
E sem fim
O Verão.
Zé Onofre