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024/01/22
"Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!"
Almada Negreiros
Um dia destes ouvi na Antena 2 (ou Antena 1) um programa sobre Escola e a IA (inteligência artificial). Diziam, os entendidos, que a IA era uma grande ajuda para "ensinar" aos alunos “conceitos".
Então, pensei comigo - é isto que se pretende da Escola? Parece-me que estão a confundir alunos com a IA, isto é, despeja-se-lhes no disco rígido (cérebro) uma série de conceitos e eles saberão na "ponta do chip" responder a qualquer pergunta que se lhes faça.
É uma maravilha fazer alunos Robô para bem servir a economia de $uce$$o.
Como ando e andei, e já agora andarei, enganado - pensava que a Escola era para formar Homens para serem - racionais, emotivos, solidários, criadores, inventores, Homens capazes de voar nas asas da Liberdade e da Utopia – isto é, Humanos.
Agora, ao reler este belo poema, eu chamo-lhe poema, de Almada Negreiros reconfirmo quão atrasada, com ademanes de progressista, está a Escola e cada vez mais se parece com uma Fábrica de Fazer Robôs que quando já não servirem se deitam fora.
Eu estou com Almada Negreiros – a criança já sabe que “são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!"
Um “Robô” desenharia logo a flor com todas as linhas no seu lugar, mas nunca terá o prazer de “aprender /descobrir” como se desenha uma flor.
Zé Onofre