XXVI
024/03/04
Caro amigo, de lutas velho companheiro,
Temos de arranjar mais tempo p’ra falar.
Tentar perceber, em que caminho ou carreiro,
Perdemos a lucidez e a vontade de lutar?
Talvez tenhamos minimizado o inimigo
Deixámo-lo sem vigilância constante.
Esquecemos o cuidado daquele amigo
Que dizia tende cuidado a cada instante.
Como seria que ele, com um só ouvido,
Conseguia distinguir, entre tantos pregões
Iguais prometiam tudo com igual alarido,
Quais eram pura mentira, eram apenas ilusões.
Como é que nesta mentira nos deixamos cair?
Agora aprendemos na pele, nos ossos até à raiz
Dos cabelos, que basta estar atento e ouvir
Se o discurso se dirige às pessoas ou ao País.
Há quem fale genericamente para todos.
Agora, cuidado, muito cuidado meu amigo,
Toma atenção, é uma floresta de engodos.
Exploradores e explorados num só gigo?
Uns prometem fazer dos círculos quadrados,
Outros dão o sol na eira e chuva no nabal,
Quer um quer outro são mentirosos refinados,
São casos para um severo tratamento mental.
Vamos ter cuidado e manter vivo o ouvido,
Estar atento de onde vem tão doce canção.
É que esconde o verdadeiro e real sentido,
Que não passa de uma reles e vil imitação.
Companheiro, agora a luta é mais acutilante,
Começa pela atenção ao que cada um, fala,
Tendo em atenção ao que se faz bom falante,
O importante não é o que diz, é o que cala.
Zé Onofre
Deixemo-nos de olhos baixos, caídos a lamentar
Descuidos passados em denunciar os aldrabões
Agora é a hora de saltar á rua e alto cantar,
Cuidado amigos, com os vendedores de ilusões.