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024/09/13
Sobre O Céu Sabe Lá, Sandra, 12.09.24, em https://cronicassilabasasolta.blogs.sapo.pt/
Quando, aos dez anos,
Tomei conhecimento que o Mundo
Não era o meu cantinho verde,
Do Tombio correndo entre as canas do milho.
(Às vezes travado para formar uma poça,
Piscina onde se aprendia a nadar
Em cuecas, ou mesmo nu)
Às águas do Tâmega.
Aos dez anos,
Descobri o mundo além do Tombio
E vi como o Mundo é grande.
Numa viagem atribulada
Até à grande cidade.
Guimarães
Ficava lá tão longe,
Do meu pátrio Tâmega,
Que eram precisos três transportes diferentes,
Um comboio e duas "caminhetas da carreira",
E um tempo infindo
Para ser alcançada.
Aos dez anos, dizia,
Vi como o mundo é grande.
As minhas adoradas "Ciências Naturais",
Ensinaram-me que não só era grande,
Mas que era também alto e profundo.
Mostrou-me as alturas vertiginosas do Everest,
Oito mil oitocentos e quarenta metros,
(Coitadinho do Marão).
As abissais profundezas,
Dez mil metros de abismo,
Da Fossa de Mindanau
(Coitado do meu querido Tâmega,
E a fundura de "quatro cordas de carros de bois".
Quando tinha dez anos
O meu desejo,
Ao comparar a minha pequenez
Com a colossal altura do Everest
E a abissal profundidade de Mindanau,
Era ultrapassar, por longe,
Aquela diferença incomensurável.
Os pés assentes no fundo de Mindanau,
E ver de alto as neves eternas do Everest.
O pobre do Céu,
Não abrigou este louco desejo.
Como é que, aceitando aquela loucura,
Poderia abrigar com carinho
Sonhos realizáveis?
Zé Onofre