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Notas à Margem

Notas à Margem

02
Jan24

Comentários - 327

zé onofre

                  328 

 

023/11/10

 

Sobre E se..., Mafalda Carmona, 10 NOV 23 em  https://cotoviaecompanhia.blogs.sapo.pt/

Uma fotografia

Confunde o meu olhar

E traz-me memórias antigas.

 

Um manto de neve

Cobre um campo semeado de montículos.

 

Penedos semeados ao acaso

Por velhos glaciares.

Montes de escória

De mina abandonada.

Velhos dolmens

Testemunhas do início do divórcio

Entre o Homem e a Natureza.

Esqueletos amontoados,

Abandonados ao tempo

No final de batalhas ferozes

Pela posse de bagatelas

Que ficarão para trás

Depois de todos vencidos.

Sejam vencidos mortos,

Ou vencidos vivos.

Brandissem a bandeira dos bons,

Ou a bandeira dos maus.

Não, são todos maus,

Os bons não fazem guerras,

Conservam a paz.

 

Lá, mais longe,

No fim deste campo de neve,

Rochas vulcânicas.

Terras lavradas

Por arados de morte

Que amassaram o solo

Com sangue

Inutilmente derramado.

 

Talvez nada.

Talvez tudo.

 

Visões

Que o pensamento,

Em turbilhão,

Cria.

   Zé Onofre

04
Nov23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro III - Nuno e a neve

zé onofre

NUNO E A NEVE, 2005-03-08   

 

“Anda lá

Não sei onde tens a cabeça!”

E o Nuno recomeçava

“Em trinta e oito

Quantas vezes há nove.

 

E a mão pesada

Lá escrevia

O que a cabeça

Perdida nos amigos

Lhe dizia.

 

Ele ali

A repetir ditados,

Contas, problemas,

Reis, rainhas,

Rios, montanhas

E as linhas.

 

E os amigos nos campos

A brincar com barcos

A fazer moinhos.

 

E a voz da professora

Ouve lá, já viste neve?

 

Distraído,

Ainda não escrevi

“Ditado”

 

Não é isso.

Tu já viste neve?

Não, senhora.

Mexe-te,

A explicação acabou,

Vai-te embora.

 

Palavras santas

Ouvidas com toda a atenção.

A correr sai porta fora.

 

De olhos espantados

Vê o céu cinzento

Cair aos bocados. 

Aquilo é que é neve?

Aqueles farrapos

Brancos, macios,

Leves e frios

É que é a neve?

 

Chama os amigos

Segue as pegadas

No tapete branco.

Lá estão eles na eira.

 

Começa a brincadeira.

Bonecos de neve

Bolas de neve

Corridas na neve.

Esquecido da lição,

Que tanto o entristecia,

Nuno desliza

Calções no chão

Pela neve fria

 

   Zé Onofre

NUNO E A NEVE.jpg

 

 

 

 

 

 

 

24
Out23

Notas à margem - Dia de hoje 87

zé onofre

                   87

 

023/10/24

 

Mais uma vez seguiremos

A tradição.

Como em todos os outros anos

Celebraremos o Natal.

 

Que Natal, celebraremos?

 

O Natal de uma rua escura,

Gelada e coberta de Neve

Apenas iluminada pela fresta de uma vidraça,

Por onde se espreita uma mesa de excessos,

Colorida com mil luzes,

E uma fogueira acesa.

Enquanto,

Do lado de cá da vidraça,

Uma menina morre

Aquecida por uma fogueira de fósforos.

 

Que Natal, celebraremos?

 

O natal das ruas arco-íris,

Das montras coloridas,

A convidar ao consumo de inutilidades.

Onde a felicidade vem embrulhada

Em papéis coloridos,

Decorados com fitas e fitinhas,

Laços, lacinhos e laçarotes.

Felicidade que ao outro dia despejaremos,

Nos contentores onde se despeja

O lixo selecionado.

 

Quando é que celebraremos o Natal

De uma humanidade nascida

Para a Igualdade,

Para a Fraternidade,

Para a Liberdade?

   Zé Onofre

03
Set23

Notas à margem - Dia de hoje 93

zé onofre

               93 – Natal

 

023/09/03

 

Este ano,

O meu desejo de Natal,

É que não haja Natal

Por desnecessário e anacrónico.

 

Porque desde sempre

Apenas o sol iluminava os dias

E que a noite

Apenas conhecia a lua e as estrelas.

 

Porque o solo

Apenas tinha memória

De ser rasgado pelos ferros do arado,

Apenas fora pisado por tratores,

E nunca sentira o peso de botas cardadas,

Nem de máquinas de lagartas.

 

As cidades apenas sabiam

De edifícios que eram lares

E não construções de paredes esventradas.

 

Os verdes e floridos jardins

Tinham apenas a lembrança

Das alegrias, tristezas, brincadeiras e brigas das crianças,

Do arrulhar e arrufos de namorados,

Do silêncio/memória dos reformados.

 

Nos bosques apenas havia vestígios

Do desenvolvimento harmonioso da vida selvagem,

Ao som do vento e da chuva,

Da brancura da neve e das geadas,

Dos temporais e das bonanças,

De homens, mulheres e crianças

Em alegres passeios e piqueniques.

 

Os rios e os lagos desde há muito

Eram o habitat da vida aquática,

A serenidade das suas águas

Apenas eram cortadas por árvores que tombavam,

Pelo remar de pequenos barcos,

Onde felizes humanos

Conversavam e cantavam a vida.

Havia também o registo de corpos,

Mais ou menos elegantes

Que nas suas águas procuravam prazer.

 

Os mares, desde tempos imemoriais,

Apenas eram navegados por cruzeiros,

Navios cargueiros,

Respeitados pelos humanos

Que nunca dele fizeram o seu caixote do lixo,

Quanto mais estrada de máquinas de morte.

 

Os ares, apenas sabiam,

Que eram o lar das nuvens e das aves,

A fonte dos relâmpagos e dos trovões,

Caminho de aviões que os cruzavam

Com intenções de negócios,

Ou como mensageiros de tristezas e alegrias,

Ou apenas destino de descanso e recreio.

Os ares nunca souberam que poderiam ser voados,

Por máquinas furiosas que desovavam,

Inclementes, ovos de morte sobre a superfície.

 

As ruas, praças e avenidas,

Desde tempos antigos

Sentem passos de pessoas,

Sem pressas nem correrias,

Que apenas viviam a vida

Com alegrias, choros, tristezas e gargalhadas,

A olharem o longe sem medo

Que do nada surgisse a morte.

O seu único receio era que um  pássaro passageiro

Largasse sobre elas um dejeto ligeiro.

 

Dos campos, das minas, das fábricas e dos mares

Apenas se fabricava e extraía o necessário.

Não se produzia para o excesso,

Nem para acumular riqueza,

E produzir pobres.

 

Este ano,

O meu desejo de Natal,

É que não haja Natal

Por desnecessário e anacrónico.

   Zé Onofre

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