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Notas à Margem

Notas à Margem

01
Mar24

Comentários - 336

zé onofre

                  336 

 

024/02/13

 

Sobre Almocreva, de Zé LG, 13.02.24 em https://alvitrando.blogs.sapo.pt/

 

Sob um céu azul remendado

Que levemente protege

Um casal no cimo do horizonte,

Tendo por vigia um velho poste,

Sente-se que para além daquela cortina

Há vidas escondidas,

Mas não esquecidas.

 

Vidas

Encostadas ao cajado

Olhando o infinito,

Nas cabeças do seu gado

Que pacientemente mordem

As folhas das ervas quase ressequidas.

 

Vidas de homens antigos

E de mulheres feiticeiras

Que de foicinha em punho

Segam o trigo maduro.

Sob um sol inclemente

Lançam à calmaria

Uma canção dolente,

Dorida,

Marcando o ritmo das mãos calejadas.

 

Vidas leiloadas na praça da Vila

A tanto à jorna.

Quanto mais vidas,

A serem leiloadas,

Menor a jorna se paga

Por vidas quase acabadas.

Uma voz que se levanta,

Um zumbido que atravessa a praça.

Logo de seguida,

Ferraduras em tropel no empedrado,

Tiros disparados sem rumo,

Mas com destino.

Uns resistem,

De uma vida,

Que no chão da praça jaz,

Um rio de sangue nasce

Uns vão para a prisão,

Outros para casa acalentando a fome.

Os assassinos regressam ao quartel

Em paz.

  Zé Onofre

08
Nov23

Dia de hoje - 88

zé onofre

               88

 

023/11/08

 

Havia um quintal.

No quintal havia um carvalho.

No carvalho havia bugalhos.

 

Havia um quintal.

No Inverno florescia o batatal.

Todo o ano produzia couves.

 

Havia um quintal.

No Verão resplandecia de brincadeiras,

No solo remexido e poeirento.

 

Havia um quintal.

Havia oito irmãos

Para o quintal.

 

Com os oito irmãos

O quintal

Deixava de ser apenas quintal.

 

Com os irmãos

Os simples bugalhos,

Transformavam-se em maravilhas.

 

Agora o quintal é acampamento.

A tranca da porta da cozinha

Com lençóis faziam a tenda do Comandante,

 

Agora os bugalhos são ciclistas,

A fazerem a Volta a Portugal.

Com esforço trepam o Marão e a Estrela,

E outras serras menores,

Suam pelas planícies tórridas do Alentejo,

Seguem à sombra das vinhas de enforcado

Em estradas serpenteando pelo verde Minho,

Por vilas e cidades,

Por aldeias perdidas

Que nem os mapas conseguem encontrar.

 

Agora o quintal é uma colina

Onde uma cabana se ergue,

Casino onde se joga às cartas,

Sala de conversas animadas,

Quarto secreto

Onde a passarada canta de madrugada,

Enquanto as estrelas se somem uma a uma

E o Sol raia pelo carvalho.

 

Havia um quintal.

Havia um carvalho com bugalhos.

Havia oito irmãos.

Havia imaginação,

Que tornava imensas

Os dias e as noites,

E sem fim

O Verão.

  Zé Onofre

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