Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Notas à Margem

Notas à Margem

03
Dez24

Dia de hoje IV 2024 - 20

zé onofre

20 – Morrendo

 

024/12/01

 

Mais uma tristeza,

Mais uma folha descolorida

Perdi neste outono.

 

A mais antiga árvore,

Que com amor semeamos,

– Gruta-CCL chamada – 

Já quase cinquentenária,

Num chão de pouco lavrado,

Está a morrer.

 

Morte lenta,

Doença crónica,

Devoradora do sonho.

Seiva que envelhece

Mesmo nas raízes

Que o primeiro alento lhe deu.

 

Foi,

E é ainda,

Pensava eu,

Uma árvore generosa,

Que gratuitamente dava frutos

Alimentados com alegria,

Embora embranquecida,

Do velho húmus

–Sonhos de futuro.

 

Pura ilusão

Ilusão de quem se ilude,

De quem não quer ver

O que à sua volta se ia passando,

 

 

Que anunciava o ia acontecer.

 

Aceito o cansaço,

De quase cinquenta anos

Remando contra a maré.

A suster esta árvore

No deserto que se tornou

O solo em abril lavrado.

 

Aceito que esmoreça a alegria

Que desmaie o sonho,

Que a vontade de lutar esteja exaurida.

Agora que esta folha caia,

Porque não se sente valorizado,

Valorização que nunca foi regateada

À sua entrega,

Ao seu mérito.

 

Que foque essa “valorização”

Na morte “do ser amador de uma causa”,

Para ser mais um profissional,

É triste, muito triste.

 

Apesar do desgosto

De mais um pouco de mim que se vai

E do sonho que mais um pouco que mingua,

Do sonho que já minguado está,

Resistirei,

Não sei “se ainda e sempre”

À mercantilização

Do amador.

    Zé Onofre

30
Out23

Histórias de A a Z para aprender a ler e escrever - Livro III - Viagem

zé onofre

VIAGEM, 2005.02.22

 

Era uma vez

Pequenos barcos veleiros

Levavam no seu seio

Missionários,

Guerreiros,

Comerciantes,

Aventureiros,

Á procura de sonhos,

De riquezas,

De almas,

De fortalezas.

 

Era uma vez o Vítor

Viajante do sonho

Fazia barcos à vela

Com folhas de papel.

 

Nunca vira o mar

Nem a onda rugir

Nunca vira a praia

Mas tinha pressa de partir

No seu barco à vela,

Feito de sonhos de papel

Ele é o missionário

Ele é o guerreiro

Ele é o comerciante

Ele é o aventureiro.

VIAGEM.jpg

Viaja Vítor,

A cabeça

No barco à vela

Os pés descalços

Na estrada,

À descoberta de ilhas desertas

Ao encontro da Terra encantada.

 

Agora é o Gil Eanes,

Às voltas no Bojador;

É o Diogo Cão

De Angola o descobridor;

É Bartolomeu Dias

Medroso como uma criança

A passar o Cabo da Boa Esperança;

É Vasco da Gama

A Caminho da Índia,

É Pedro Álvares Cabral

À descoberta do Brasil;

É Fernão de Magalhães

Na volta ao mundo.

 

E tudo isto

Em apenas um segundo.

  Zé Onofre

02
Set23

Notas à margem - Canto triste - Canção XXIII

zé onofre

023/09/02

Canção XXIII

 

Passei por ti vinhas da escola,

Passei por ti vinhas da escola

Vinhas de aprender a lição.

Trazias o saber na sacola,

Trazias o saber na sacola,

A vida em cada mão.

 

Passei por ti saías da carreira,

Passei por ti saías da carreira

Mesmo à porta do liceu.

Vinhas com aquela maneira,

Vinhas com aquela maneira

De quem o mundo é todo seu.

 

Passei por ti vestias de escuro,

Passei por ti vestias de escuro,

Bem ao contrário do que sentias.

Vivias no presente o futuro,

Vivias no presente o futuro,

Em orgias de fantasia e alegria.

 

Passei por ti logo a seguir à festa,

Passei por ti logo a seguir à festa,

Por ruas, praças e avenidas.

Ainda trazias o brilho na testa,

Ainda trazias o brilho na testa,

Dos sonhos com que teceste a vida.

 

Passei por ti vinhas quais crianças,

Passei por ti vinhas quais crianças,

Que ainda mal aprenderam a andar.

Tropeçavas em destroçadas esperanças,

Tropeçavas em destroçadas esperanças,

Consumidas antes de a vida começar.

 

Passei por ti de ti estavas ausente,

Passei por ti de ti estavas ausente,

Na fila à porta que gelou o futuro.

Esperavas com, como a ti, igual gente,

Esperavas com, como a ti, igual gente,

Que se acenda, mesmo frágil, luz no escuro.

 

Passei por ti tinhas desistido,

Passei por ti tinhas desistido,

De lançar no mundo novas sementes.

Não te acomodes no lamento de vencido,

Não te acomodes no lamento de vencido,

Vai unir-te aos irredutíveis resistentes.

    Zé Onofre

13
Jul23

Comentário 320

zé onofre

                 320 

 

023/07/12    

 

Sobre, Tempo perdido, por Cotovia (MC), em 023/06/04 no blog https://cotoviaecompanhia.blogs.sapo.pt/

 

                    Em busca

 

Sentado neste banco, meu companheiro

De sonhos e de viagens impossíveis,

Recapitulo a vida por inteiro

E sinto que poderiam ser viáveis.

 

Tivessem tido um outro mensageiro 

A divulgá-los sem as palavras frágeis

Deste homem que os deixou no tinteiro

Tanto tempo que ficaram inviáveis. 

 

Estendido neste banco ao comprido,

A ver as estrelas, que ainda estão

Lá em cima, distante como lhes é devido

 

Sinto que não foram sonhados em vão.

Tudo o que sou apenas faz sentido

Pelo caminho de que fiz o meu chão.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub