Dia de hoje IV 2024 - 20
20 – Morrendo
024/12/01
Mais uma tristeza,
Mais uma folha descolorida
Perdi neste outono.
A mais antiga árvore,
Que com amor semeamos,
– Gruta-CCL chamada –
Já quase cinquentenária,
Num chão de pouco lavrado,
Está a morrer.
Morte lenta,
Doença crónica,
Devoradora do sonho.
Seiva que envelhece
Mesmo nas raízes
Que o primeiro alento lhe deu.
Foi,
E é ainda,
Pensava eu,
Uma árvore generosa,
Que gratuitamente dava frutos
Alimentados com alegria,
Embora embranquecida,
Do velho húmus
–Sonhos de futuro.
Pura ilusão
Ilusão de quem se ilude,
De quem não quer ver
O que à sua volta se ia passando,
Que anunciava o ia acontecer.
Aceito o cansaço,
De quase cinquenta anos
Remando contra a maré.
A suster esta árvore
No deserto que se tornou
O solo em abril lavrado.
Aceito que esmoreça a alegria
Que desmaie o sonho,
Que a vontade de lutar esteja exaurida.
Agora que esta folha caia,
Porque não se sente valorizado,
Valorização que nunca foi regateada
À sua entrega,
Ao seu mérito.
Que foque essa “valorização”
Na morte “do ser amador de uma causa”,
Para ser mais um profissional,
É triste, muito triste.
Apesar do desgosto
De mais um pouco de mim que se vai
E do sonho que mais um pouco que mingua,
Do sonho que já minguado está,
Resistirei,
Não sei “se ainda e sempre”
À mercantilização
Do amador.
Zé Onofre