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Notas à Margem

Notas à Margem

22
Mar25

Notas à margem Dias de hoje/2025

zé onofre

               7, Tempo

 

025/03/22, Amarante

 

É este o tempo,

É este,

Que nos cabe

Para estar.

 

Não olhemos para trás.

O que lá está,

Lá ficou,

Marco do que escolhemos trilhar.

 

Agora,

É olhar o horizonte,

Com discernimento

Ver,

Ouvir,

Escutar

Sem arrependimentos

Abrir caminhos,

Nunca dantes caminhados,

Para onde pretendemos aportar.

      Zé Onofre

17
Nov24

Dia de hoje 110

zé onofre

                 110

 

024/11/17

 

Roubado

 

Noutros tempos,

E esses ontem foram,

Contudo,

Lá tão longe

Que parece que um século se passou.

 

Naqueles tempos,

Cinzentos na névoa da memória,

Havia um menino,

Como todos os outros meninos

Que outrora havia,

Que vivia ao ritmo da vida

Sem pressas,

Sem ansiedades

Ao ritmo do tempo

Que o tempo tinha.

 

O tempo,

Nesse tempo ido,

Era marcado pelo calendário

Que não sabia de dias

Nem de horas,

Era marcado pelo ritmo

Dos momentos,

Que então o ano tinha.

 

Havia o tempo de semear,

O tempo de cuidar,

O tempo de colher,

O tempo de descansar.

Tudo acontecia,

Como tinha de suceder,

No tempo de acontecer.

 

Era a festa da Primavera,

Opas vermelhas de casa em casa

Guiadas pelo som estridente

De campainhas de prata

Que crianças felizes

Badalavam sorridentes.

 

Já quase no fim,

Pré-anunciando o verão,

Acontecia o dia da espiga,

Dos murmúrios pelos valados,

De carícias e juras dos namorados

E a festa da Ascensão.

 

O doirado do trigo e do centeio

Chamavam as ceifeiras,

Era o verão no seu fulgor.

Os mergulhos em águas frescas,

De poças, riachos, ribeiros

E rios verdadeiros.

Os bailaricos

Nos largos e terreiros,

Pelo são João,

Que duravam a noite inteira.

 

Já lá vem o Outono multicolor,

Das vindimas,

Das desfolhadas

Com risos marotos,

Cochichos misteriosos,

Das explosões de alegria,

Numa espiga de milho-rei.

 

De mansinho chegava o inverno,

Das chuvas mansas,

Ou torrenciais, das geadas “brabas”,

Caiadoras dos campos

Imitando, como podiam,

A brancura da neve.

 

Inesperadamente, como um sonho,

Já era o tempo dos presépios,

Das rabanadas e da aletria,

Da Missa do Galo,

Das janeiras e dos reis.

 

Ao ritmo do tempo

Que o tempo tinha,

De um calendário sem pressas

A vida acontecia,

Como tinha de acontecer,

No seu momento único

De alegria e magia.

 

Fui roubado

Pelo tic-tac furioso dos relógios,

Devoradores do tempo,

Que antecipam

Destruindo a surpresa

Do o momento certo e único

Que surgia vindo do nada

Com a magia do inesperado.

    Zé Onofre

27
Mai24

Dia de hoje - 102

zé onofre

               102

 

024/05/27

 

Olho pelas frinchas do tempo

Os actos praticados

No tempo que já foi

Que, contudo,

Continua correndo dentro de mim

Como um riacho.

Ora sereno,

Brilhante,

Cristalino,

Límpido,

Mostrando o seu leito,

Que sou eu;

Ora

Turbulento,

Barrento,

Saltando rugidos de pedra em pedra,

Lançando-se violento,

De desnível em desnível.

 

Olho pelas frinchas do tempo

Os actos praticados

No tempo que já fui

Como espectador isento

Que vê uma fita

Realizada por um cineasta menor.

Porém,

Falta-me essa qualidade.

Não posso deixar de sentir saudades

Do que não fiz

Alegrar-me com alguns feitos

E lamentar outros.

Ali permanecem ainda,

Como ferida aberta,

Ou apenas uma cicatriz.

Marcos indeléveis

Nas praias do tempo.

20
Dez23

Dias de hoje - 90

zé onofre

              90

 

023/12/20

 

No tempo em que o tempo parava

 

Naquele tempo,

Antes de este tempo

Que em tudo que toca macula

Que das mais pequenas coisas

Faz objeto de consumo,

O Natal

Não era uma data no calendário,

Uma palavra no dicionário,

Era o tempo

Do mistério e da alegria,

Do sonho e da magia.

 

Do Natal desse tempo

Não há um momento especial,

Todos os momentos eram

Por inteiro o Natal.

 

Começava no fim das aulas em dezembro,

Com a criançada desafinada,

Pela estrada até casa

A cantar entusiasmada

 

– «Aulas acabadas

Férias começadas

Vamos para casa

Comer rabanadas».

 

Continuava-se com o presépio,

Na Igreja e em casa,

Na cozinha à volta da mãe

A provar as lambarices.

 

A noite de vinte e quatro

Com o bacalhau e a doçaria

(Com filhós e bolos de abóbora

rabanadas e aletria).

No Largo da Igreja

Com brincadeiras mil

Até à missa do Galo,

Com o “nosso” presépio a presidir.

 

Ao outro dia a festa continuava.

Ensaiar as janeiras. Canto tradicional,

Já não à avó, mas que continuava

Ao tio mais velho da Casa do Espinhal.

  

Era uma semana cheia de alegria,

O pai e os filhos, vê-los era um regalo.

E como sempre o pai contava

“uma vez deram um arroz de galo”,

E logo de seguida, com ar maroto,

“Não, galo de arroz”, emendava.

  

 Acabava o Natal,

No primeiro dia de janeiro,

Alta madrugada

Já o galo cantava no poleiro.

 

Votaria daí a uma eternidade,

(Caído logo no esquecimento)

No último dia de aulas

Do próximo dezembro.

  Zé Onofre

13
Jul23

Comentário 320

zé onofre

                 320 

 

023/07/12    

 

Sobre, Tempo perdido, por Cotovia (MC), em 023/06/04 no blog https://cotoviaecompanhia.blogs.sapo.pt/

 

                    Em busca

 

Sentado neste banco, meu companheiro

De sonhos e de viagens impossíveis,

Recapitulo a vida por inteiro

E sinto que poderiam ser viáveis.

 

Tivessem tido um outro mensageiro 

A divulgá-los sem as palavras frágeis

Deste homem que os deixou no tinteiro

Tanto tempo que ficaram inviáveis. 

 

Estendido neste banco ao comprido,

A ver as estrelas, que ainda estão

Lá em cima, distante como lhes é devido

 

Sinto que não foram sonhados em vão.

Tudo o que sou apenas faz sentido

Pelo caminho de que fiz o meu chão.

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