Cantos tristes - XXIX
Canção XXIX
024/09/14
«Pergunto ao vento que passa …»,
Uma voz que se levantou
Naquele tempo de desgraça
Por que o Povo passou.
«… Notícias do meu país.»
Continua a voz desterrada,
Arrancada a profunda raiz,
Dos campos da sua terra amada.
Naquele tempo da ditadura
Era fácil levantar a voz,
Apesar da prisão, da tortura
E da morte que pairava sobre nós.
Hoje não há soturnas cadeias,
Não há candeeiros disfarçados
Que espiem actos e ideias
Que nos levem encarcerados.
Hoje não é tão fácil como ontem
Levantar a voz contra a opressão
Que do nosso corpo se mantém,
Que anda por aí sem identificação
Não é tão fácil como ontem
Descobrir os vis assassinos
Que como quem nos quer bem
Nos espetam os ferozes caninos.
Hoje não é tão fácil como ontem
Avistar os novos vampiros
Que com desfaçatez e desdém
Nos subtrai os últimos suspiros
Hoje é urgente usar a canção
Alerta da revolução por fazer.
Com as armas que temos na mão
Contra o capital lutar e vencer.
Zé Onofre