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Notas à Margem

Notas à Margem

13
Mar25

Notas à margem Dias de hoje 2025

zé onofre

              4

 

025/03/13

 

A vida ouve-se lá fora.

Talvez a chuva,

Que lenta cai,

Seja a vida

A escorrer pelas vidraças,

Dos nossos olhos.

 

E a vida cai,

Lentamente escorre

Penetra na terra

Onde entrará no Cosmo

Até voltar um dia

Poeira das estrelas,

Novas extensões da vida

Que agora se ouve lá fora.

    Zé Onofre

11
Mar25

A propósito de ... 346

zé onofre

              346

 

025/02/28

 

A propósito de “Fazendo o pino”, I M Silva, Fev.28.2025, em Imsilva.blogs.sapo.pt

 

Ali está

Desde o momento em que se inverteu

Convencido,

Na sua fantasia,

De assim ver a Vida aprumada.

 

Agora,

Ali ficará eternamente,

Na sua doce ilusão,

Desde o momento

Em que um olhar

A fixou com um clique

Deu dedo da mão.

 

Nunca saberemos

Se tirou alguma conclusão

Daquela sua experiência

De vislumbrar uma aurora

Mais atractiva.

     Zé Onofre

15
Nov24

Comentários - 353

zé onofre

               353 

 

024/10/07

 

Sobre dói?, Di, 07 de Outubro de 2024 em https://1mulher.blogs.sapo.pt/

 

O que mais dói

Não é a dor física.

Essa vem,

Identifica-se,

Cura-se,

Vai.

 

Mais aguda

É a dor interior

Que vem não se sabe de onde

Permanece,

Perturba,

Arrasta-nos

Para as profundezas da vida.

 

Mais esmagadora,

Ainda,

Do que a esta dor

Que a qualquer um pode atingir,

É a dor da Impotência,

Dor pandémica (sem cura, ou vacina)

Que escorre das garras 

Da mentira

Difundida,

Como verdade absoluta da arrogância,

Elevada a suprassumo da Razão,

Da impunidade

Com que se destrói a Vida.

 

Uns argumentam

Com a Religião.

Outros apontam

As diferenças Culturais.

Alguns assumem-na

Como direitos Históricos.

Ainda elaboram

Em defesa da Democracia e da Liberdade.

 

Entretanto sofremos,

Enquanto uns poucos se apoderam

Das Vidas,

Da produção,

Das riquezas

Que acumulam e acumulam e acumulam.

 

Enquanto

Anunciam a altas vozes

Que é para bem dos Povos,

O sangue de milhões de vidas

Escorre-lhes pelos beiços

De Vampiros.

     Zé Onofre

27
Fev24

Canto triste - XXV

zé onofre

                            Canção XXV

 

024/02/26

Ó gentes minhas companheiras, 

Que das serras fazeis queijo,

Que da terra amassada fazeis pão,

Que lavrais peixes nos mares,

Que da matéria bruta criais beleza,

Que em todos balcões servis vida,

Que o caos organizais em números,

Pensemos baixinho, com sinceridade

Como ficamos tão sem força assim

Para não levarmos a luta até ao fim.

 

Ó gentes, minhas companheiras,

Que sacrificáveis o descanso,

Depois de um dia de labuta,

E em negras noites de sussurros

Com força nos braços, brilho no olhar

Desbravávamos novos caminhos

À procura de um futuro sem classes.

Pensemos baixinho, com sinceridade

Como ficamos tão sem força assim

Para não levarmos a luta até ao fim.

 

Digamos companheiras, digamos,

Aos ventos que sopram dos montes,

Do queijo que em vossas mãos nascem,

Das mãos que da terra arrancam pão,

Do coro das máquinas que vossos dedos regem,

Dos números a contar sob a vossa mestria,

Dos peixes embalados nos vossos berços, 

Digamos baixinho, com sinceridade

Como ficamos tão sem forças assim

Para não levarmos a luta até ao fim.

 

Ouçamos no vento, ouçamos com atenção

O que um diz na solidão do monte,

O que outro prega na rabeta do arado,

O que alguém resmunga junto à máquina,

O espanto da realidade na máquina de calcular,

O gemer dos dias nos barcos a baloiçar,

Ouçamos baixinho, gritemos com verdade

Que ficarmos tão sem forças assim

Desonra a quem nos trouxe perto do fim.

   Zé Onofre

11
Set23

Dia de hoje 85

zé onofre

                     85

 

023/09/07

 

Não acreditem.

Se um dia,

Inopinadamente,

Anunciarem

A minha morte inopinada.

Não acreditem.

 

Faleceu

Após doença prolongada.

Desconfiem,

Não há doenças prolongadas.

Há doenças

Que adiam a morte.

 

Morreu de idade avançada.

Não lhes deem crédito,

Não há idades avançadas,

Há a idade certa para nos finarmos.

 

Perdeu a vida de repente,

De um ataque fulminante.

Fiquem sabendo,

É mais uma notícia falsa,

Com a doçura costumada

Com que anunciam

Os falecimentos.

 

No meu caso

Podem crer,

É o último ocaso,

Resultado das mortes melancólicas

Que todos os dias vivi

Aos entardeceres.

    Zé Onofre

03
Set23

Notas à margem - Dia de hoje 93

zé onofre

               93 – Natal

 

023/09/03

 

Este ano,

O meu desejo de Natal,

É que não haja Natal

Por desnecessário e anacrónico.

 

Porque desde sempre

Apenas o sol iluminava os dias

E que a noite

Apenas conhecia a lua e as estrelas.

 

Porque o solo

Apenas tinha memória

De ser rasgado pelos ferros do arado,

Apenas fora pisado por tratores,

E nunca sentira o peso de botas cardadas,

Nem de máquinas de lagartas.

 

As cidades apenas sabiam

De edifícios que eram lares

E não construções de paredes esventradas.

 

Os verdes e floridos jardins

Tinham apenas a lembrança

Das alegrias, tristezas, brincadeiras e brigas das crianças,

Do arrulhar e arrufos de namorados,

Do silêncio/memória dos reformados.

 

Nos bosques apenas havia vestígios

Do desenvolvimento harmonioso da vida selvagem,

Ao som do vento e da chuva,

Da brancura da neve e das geadas,

Dos temporais e das bonanças,

De homens, mulheres e crianças

Em alegres passeios e piqueniques.

 

Os rios e os lagos desde há muito

Eram o habitat da vida aquática,

A serenidade das suas águas

Apenas eram cortadas por árvores que tombavam,

Pelo remar de pequenos barcos,

Onde felizes humanos

Conversavam e cantavam a vida.

Havia também o registo de corpos,

Mais ou menos elegantes

Que nas suas águas procuravam prazer.

 

Os mares, desde tempos imemoriais,

Apenas eram navegados por cruzeiros,

Navios cargueiros,

Respeitados pelos humanos

Que nunca dele fizeram o seu caixote do lixo,

Quanto mais estrada de máquinas de morte.

 

Os ares, apenas sabiam,

Que eram o lar das nuvens e das aves,

A fonte dos relâmpagos e dos trovões,

Caminho de aviões que os cruzavam

Com intenções de negócios,

Ou como mensageiros de tristezas e alegrias,

Ou apenas destino de descanso e recreio.

Os ares nunca souberam que poderiam ser voados,

Por máquinas furiosas que desovavam,

Inclementes, ovos de morte sobre a superfície.

 

As ruas, praças e avenidas,

Desde tempos antigos

Sentem passos de pessoas,

Sem pressas nem correrias,

Que apenas viviam a vida

Com alegrias, choros, tristezas e gargalhadas,

A olharem o longe sem medo

Que do nada surgisse a morte.

O seu único receio era que um  pássaro passageiro

Largasse sobre elas um dejeto ligeiro.

 

Dos campos, das minas, das fábricas e dos mares

Apenas se fabricava e extraía o necessário.

Não se produzia para o excesso,

Nem para acumular riqueza,

E produzir pobres.

 

Este ano,

O meu desejo de Natal,

É que não haja Natal

Por desnecessário e anacrónico.

   Zé Onofre

02
Set23

Notas à margem - Canto triste - Canção XXIII

zé onofre

023/09/02

Canção XXIII

 

Passei por ti vinhas da escola,

Passei por ti vinhas da escola

Vinhas de aprender a lição.

Trazias o saber na sacola,

Trazias o saber na sacola,

A vida em cada mão.

 

Passei por ti saías da carreira,

Passei por ti saías da carreira

Mesmo à porta do liceu.

Vinhas com aquela maneira,

Vinhas com aquela maneira

De quem o mundo é todo seu.

 

Passei por ti vestias de escuro,

Passei por ti vestias de escuro,

Bem ao contrário do que sentias.

Vivias no presente o futuro,

Vivias no presente o futuro,

Em orgias de fantasia e alegria.

 

Passei por ti logo a seguir à festa,

Passei por ti logo a seguir à festa,

Por ruas, praças e avenidas.

Ainda trazias o brilho na testa,

Ainda trazias o brilho na testa,

Dos sonhos com que teceste a vida.

 

Passei por ti vinhas quais crianças,

Passei por ti vinhas quais crianças,

Que ainda mal aprenderam a andar.

Tropeçavas em destroçadas esperanças,

Tropeçavas em destroçadas esperanças,

Consumidas antes de a vida começar.

 

Passei por ti de ti estavas ausente,

Passei por ti de ti estavas ausente,

Na fila à porta que gelou o futuro.

Esperavas com, como a ti, igual gente,

Esperavas com, como a ti, igual gente,

Que se acenda, mesmo frágil, luz no escuro.

 

Passei por ti tinhas desistido,

Passei por ti tinhas desistido,

De lançar no mundo novas sementes.

Não te acomodes no lamento de vencido,

Não te acomodes no lamento de vencido,

Vai unir-te aos irredutíveis resistentes.

    Zé Onofre

17
Jul23

Comentário 321

zé onofre

                  321 

 

023/07/13

 

Sobre chegar longe, em 10.07.23, no blog /esperasadiadas.blogs.sapo.pt

 

Passo pela vida,

Como o mar.

 

Manso

Lago parado,

Espelho do firmamento,

Dos sonhos,

Das fantasias,

Das aventuras.

 

Agitado

Lago ondulado

Pela lufa-lufa

Do dia-a-dia,

Das pequenas ansiedades,

Das pequenas contradições.

 

Revolto,

Agitado,

Violento,

Fustigo rochas e areais,

Galgo Dunas,

Ameaço casas

Que invadem o meu terreno.

 

Passo pela vida

Como o mar.

 

A espuma dos dias

Confunde-se com a do mar.

Essas espumas

Contam-se os segredos

Dos sonhos vividos,

Dos sonhos perdidos,

Das viagens feitas,

Das viagens imaginadas,

Das revoluções queridas,

Das revoluções imaginadas,

Das revoluções falhadas.

 

Desse casamento entre espumas,

Das palavras secretamente prometidas,

É o rasto que de mim ficará

Para quem de mim

Quiser saber.

   Zé Onofre

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